Por Antonio Herbert Lancha Jr.
A genética é frequentemente apontada, principalmente nos últimos tempos, pelo ganho de peso. Mas esse argumento é questionado
Outro dia, eu e a minha esposa, a Lu (ou Luciana, para manter a seriedade desta coluna), estávamos na academia treinando, quando encontramos uma conhecida que não víamos há muitos anos. Ela nos cumprimentou e logo disse, efusivamente: “Nossa, vocês dois não mudam, continuam com a mesma carinha e o mesmo corpinho”. Mas minha alegria não durou muito. Enquanto em meus pensamentos me comparava com um fusca – carro que não importa o ano de fabricação e sim o estado de conservação – ela desferiu seu golpe. “É a genética, vocês dois tem genética boa”, disparou.
De fato, minha genética e a da Lu são boas. Nosso DNA vem dos genes de nossos pais, como de todos nós. Por que aquela frase me incomodou um pouco então? Quando delegamos só à herança genética a responsabilidade pela magreza ou pelo excesso de gordurinha, deixamos de lado nossa participação no processo. Ou seja, estamos condenados a ter a composição corporal que herdamos, não importa o que façamos na academia, na mesa do jantar e por aí vai.
Se tomarmos essa afirmação como verdadeira, a obesidade deveria permanecer estável ao longo dos anos em todo o planeta. Quem é gordo tem filhos gordos e quem é magro tem filhos magros, certo? Só que o crescimento exponencial da obesidade no mundo é um fenômeno pra lá de recente, que não condiz com essa linha de argumentação. Mais: há 33 anos, nenhuma nação conseguiu reduzir seu índice de obesidade per capita.
Vamos olhar então essa história da genética com mais cuidado. Alguns estudos bem interessantes avaliaram gêmeos idênticos, criados em ambientes diferentes. Muitos desses trabalhos foram feitos com imigrantes japoneses magros que mudaram para o Havaí, enquanto seu irmão idêntico ficava no Japão. Os resultados demonstravam que o ambiente novo influenciava o irmão imigrante – este engordava, mas o outro, que permanecia em sua terra natal, mantinha-se magro.